Mulheres da Minha Vida

Criei este blog, como complemento da comemoração dos meus 40 anos, que acontece este ano no dia 20 de setembro, aqui pretendo colocar os depoimentos de pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida de maneira especial. Desde o fim de 2009, venho me empenhando para reunir os depoimentos de 40 mulheres para colocar num livro e agora que os tenho, quero partilhá-los com outras pessoas também.

Talvez muitos dos meus amigos perguntem, assim como meus irmãos já me perguntaram, mas por que não os homens também?? A resposta é simples, estou num momento muito especial de minha vida. E a vida me foi dada por uma mulher, claro que com a contribuição de um homem, mas a minha mãe teve um papel fundamental neste processo e quero valorizar a mulher.

Sou mulher, negra e feliz por ter a oportunidade de ter chegado até aqui!

Tenho certeza que depois da criação do blog, outras me escreverão. E estes terão um registro aqui.

E talvez seja um incentivo para aquelas que não escreveram, ainda me encaminharem algo. O material ainda não está pronto e acabado, contribuam com fotos e outros meios criativos.

Mas seja rápida, pois senão vai ficar de fora da comemoração!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Célia, uma história de determinação

No distante ano de 1956, nasci no bairro da Lapa, São Paulo.

Filha de um humilde casal recém-chegado do Estado de Sergipe,,tive uma infância pobre, porém feliz. Às vezes faltava o supérfluo, mas nunca o pão, o amor, a dignidade, a fé, a esperança. Tínhamos tão pouco, que tudo o que acontecia, por mais trivial que fosse, tinha ares de grande evento:
  • O banho diário, de caneca, numa enorme bacia de alumínio, era pra “ficar cheirosa e bonita pra esperar o papai chegar do trabalho”.
  • Folhas de jornal no chão de vermelhão serviam pra conservar o brilho conseguido com escovão sobre a cera Cardeal, até o domingo, quando viriam visitas.
  • O chuchu da janta era muito mais gostoso porque eu o colhia no pé.
  • Ainda soam nos meus ouvidos a música “Índia” e outras, que meus pais cantavam à noite, acompanhados do violão.
  • Sempre havia um tempinho pro meu pai me contar uma fábula ou uma história da Bíblia ilustrada.
  • Lembro dos 5 bibelôs de louça sobre a penteadeira: duas meninas, duas bailarinas, um elefante.
  • As panelas reluzentes...
  • as novelas de rádio...
  • Minha avó costurando meus vestidinhos...
  • os cachinhos que minha mãe fazia, um a um, no meu cabelo.
Que diferença faz não ter o supérfluo?
Fui e ainda sou uma aluna dedicada, uma filha amorosa, uma católica fervorosa, uma amiga verdadeira. Fui um membro muito ativo da Comunidade Jovens Amigos de Cristo, no Jaguaré.
Para se trabalhar num banco nos anos 70, não era necessário o nível de escolaridade que hoje é exigido. Entrei no Bradesco aos 17 anos, apenas com meu Ginásio (que hoje é conhecido como Ensino Fundamental), e um curso de datilografia. Lá conheci o Nelson, meu 1º namorado, com quem me casei aos 20 anos.
Três anos depois nasceu o Ivan, e então resolvi parar de trabalhar pra cuidar pessoalmente dele.
Dois anos mais tarde, nasceu a Priscilla, e eu fui ficando em casa, cuidando dos meus amores.












Aproveitei esse tempo para aprender algumas coisas: artesanato, culinária, teologia, informática, chocolate, confeitos...
Em 1990 realizei um sonho de infância: minha família e eu ingressamos no Movimento Escoteiro. Foram anos de dedicação, aprendizado, conquistas de amizades e de saberes, que em muito me fizeram crescer como pessoa. É um lindo movimento.
Mudamos para Osasco em 1991. Gostamos tanto desse município, que parece que sempre fomos daqui. Bem, pra falar a verdade só o que me faltava era “morar” em Osasco... pois aqui trabalhei por 7 anos no Bradesco, conheci meu marido, meus filhos nasceram e sempre estudaram nas escolas osasquenses, o Grupo Escoteiro Tuidara é osasquense, adoro o calçadão, enfim... só o que faltava mesmo era morar por aqui.












Quando fiz 40 anos, resolvi fazer o Ensino Médio. Depois de concluir o curso, trabalhei como funcionária temporária numa financeira e numa construtora.
Aos 46 anos decidi levar mais a sério esse negócio de voltar ao mercado de trabalho. Resolvi então prestar um concurso pra pajem. Foi nessa ocasião que conheci a Ana Cláudia. Cursamos juntas o Magistério, curso que garantiu a transformação do cargo de pajem para o de Professora de Desenvolvimento Infantil, o que sou até hoje. Amo o que faço. Me divirto. Pena que o corpo já não acompanhe mais tudo o que a cabeça “inventa de fazer”.
Em 2009 prestei um vestibular pra Pedagogia e ganhei uma bolsa de 100%. Estou cursando e amando tudo o que tenho aprendido. Ultimamente não tenho me dedicado muito à religião a ao escotismo. Para falar a verdade, nem às minhas obrigações domésticas. Mas também, o dia só tem 24 horas... o que é que eu posso fazer?!
Contando assim, rapidamente, dá impressão de que esses 54 anos passaram sem turbulências, dificuldades, tristezas, erros, etc. Não foi nenhum mar de rosas, mas a vida me ensina a cada dia que Deus nunca dá a seus filhos um fardo mais pesado do que eles possam carregar. Ultimamente me entristece ver meu pai meio desmemoriado depois de um AVC, mas agradeço a Deus pela força, saúde e determinação de minha mãe. São uns fofos; muito amados mesmo. E eles continuam me amando muito, me ensinando muito, cuidando muito de mim.
Meus filhos cresceram, e graças ao Senhor, são pessoas do bem. São o grande presente que a vida me deu.
Então acho que é isto... esta sou eu: uma mulher vivida, otimista, que adora música, crianças, flores, igrejas, café, karaokê, montanhas, cores berrantes, Malzbier, galinha d’angola, anta, praia, livros, palavras cruzadas, baralho, sorriso, abraço, a família, os amigos, e sobretudo Deus.
Posso me definir como sendo uma mulher amada por muitas pessoas por ser como sou, e odiada por outras pelo mesmo motivo.
Era pra ser só mais uma colega de trabalho. Nada mais que isso. De repente um sorriso... desses que contagiam, conquistam, enternecem. Como ficar indiferente à presença de alguém que exala confiança, bondade, força e fé? Como não se deixar envolver por alguém que nos conforta, inspira, alegra e estimula? Ana Cláudia é isso: a amiga que sentimos sempre por perto, mesmo que esteja a milhares de quilômetros de distância. A pessoa que parece contrária a tudo o que buscamos. A que cochila no meio do diálogo. A que se mete em encrenca para defender as amigas. A que chora diante de uma injustiça, mesmo quando o injusto é visivelmente mais fraco. Ela poderia sacar do baú de seus conhecimentos os argumentos suficientes para derrubar os daquela pessoa desagradável... mas prefere as lágrimas, a humildade, o respeito. Porque faz parte de sua personalidade conjugar o verbo respeitar. Faz parte do seu jeito de ser, combater o mal com o bem, levantar a bandeira branca, sorrir nas dificuldades, amar quem resiste aos melhores sentimentos.
Quando éramos pajens, trabalhávamos na mesma sala, com as mesmas crianças: ela de manhã e eu à tarde. Entre meio-dia e uma hora ela me passava as novidades do dia e eu contava o que tinha acontecido na tarde anterior. Aí chegava a hora dela ir embora. As crianças dormindo. Enquanto as outras colegas da unidade não viam a hora de ir embora, ela começava o ritual de dar tchau para as crianças dormindo... jogava beijo... distribuía a ternura com o olhar... deixava o amor quando partia... me deixava forte. E eu ficava pensando: “Por que uma menina tão culta, tão inteligente e com tantos saberes se submete a este serviço? Ela poderia estar ganhando bem em outro emprego, poderia ser qualquer coisa que quisesse..” . Neste caso então, minha pergunta já trazia em si a resposta: poucos são os privilegiados que podem ser o que querem, poucos são os que amam o que fazem. Fazendo aquele trabalho tão humilde, ela era feliz, amada pelos pequenos, respeitada pelos sensíveis, invejada pelos desprovidos de consciência.
Um dia fui assistir a uma palestra que ela daria num curso na Catedral de Osasco. De repente minha pequena e humilde amiga Ana empunhou um microfone. E diante dos meus olhos surgiu aquela Ana enorme, cheia de sabedoria, conhecimento e alegria. Me encheu de orgulho. Ao final da palestra, tive que me conter pra não levantar e gritar: “ELA É MINHA AMIGA, VIU, PESSOAL?”
E o casamento dela, então? Inesquecível!!!! Um frio do caramba. Antes dela chegar a Priscilla perguntava: “Mãe,que frio!!! Será que a Ana Cláudia vai precisar casar de sobretudo?” Mas que nada... ao som da Rosa Vermelha lá vem minha amiga distribuindo sorrisos e aquele calor que só ela sabe transmitir. E leu, cantou, dançou, se emocionou, nos emocionou, enfim: mostrou que sabe viver sem vergonha de ser feliz. Quem a ama de verdade compreendeu e curtiu junto.
<!--[if !vml]--><!--[endif]-->Hoje a Ana mora tão longe de mim, mas graças à tecnologia nos comunicamos com certa freqüência, e apesar da distância estamos e somos muito próximas.
Era pra ter sido só minha colega... mas Deus achou que eu merecia ter uma irmã assim!!!!

Te amo, Ana.

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