Mulheres da Minha Vida

Criei este blog, como complemento da comemoração dos meus 40 anos, que acontece este ano no dia 20 de setembro, aqui pretendo colocar os depoimentos de pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida de maneira especial. Desde o fim de 2009, venho me empenhando para reunir os depoimentos de 40 mulheres para colocar num livro e agora que os tenho, quero partilhá-los com outras pessoas também.

Talvez muitos dos meus amigos perguntem, assim como meus irmãos já me perguntaram, mas por que não os homens também?? A resposta é simples, estou num momento muito especial de minha vida. E a vida me foi dada por uma mulher, claro que com a contribuição de um homem, mas a minha mãe teve um papel fundamental neste processo e quero valorizar a mulher.

Sou mulher, negra e feliz por ter a oportunidade de ter chegado até aqui!

Tenho certeza que depois da criação do blog, outras me escreverão. E estes terão um registro aqui.

E talvez seja um incentivo para aquelas que não escreveram, ainda me encaminharem algo. O material ainda não está pronto e acabado, contribuam com fotos e outros meios criativos.

Mas seja rápida, pois senão vai ficar de fora da comemoração!

domingo, 12 de setembro de 2010

Lucimar, uma história de adaptação


Querida Ana Cláudia

Meu nome é Lucimar Maria da Silva Kraus. Sou brasileira, tenho seis irmãs e quatro irmãos, portanto somos uma família bem grande. Tive uma infância tranquila em Santos Dumont, cidade com 60 mil habitantes. Só não pude brincar mais do que brinquei, porque tive que ajudar a cuidar dos irmãos mais novos.
Sou feliz e agradeço a Deus por ter saúde e energia positiva. Sou casada com Hans-Georg Kraus e moramos em Ulm, Alemanha, desde 2001. Meu marido é alemão e nós nos conhecemos em Juiz de Fora, no ano de 1998, quando ele trabalhou no Brasil. Naquela época eu ia muito a bailes e o conheci em uma discoteca, embora ele não goste de dançar.
Sinto saudades daquele tempo em que dançava muito, pois o fazia com prazer, além de me manter esbelta. Estudava à noite, em uma escola de dança, às terças e quintas feiras. Aos sábados e domingos, ia ao baile com algumas amigas, para treinarmos os novos passos, que havíamos aprendido.
Acho que já está mais do que na hora de fazer minha matrícula em uma escola de dança, aqui em Ulm!
Gosto de morar na Alemanha assim como também gostava de minha vida no meu país de origem. Tenho facilidade de adaptação e penso que se pode viver bem em qualquer país, quando se está bem consigo mesmo. Eu, pessoalmente, procuro estar satisfeita com o que tenho e não ficar só pensando no que não tenho. Procuro também evitar fazer muitas comparações entre os dois países, pois creio que são bem diferentes.


Sou Psicóloga e atualmente não estou trabalhando em minha profissão. Aos 40 anos, quando consegui diminuir a carga horária do meu trabalho, iniciei meu Curso de Psicologia. Em minha classe, éramos 53 mulheres e dois rapazes. Um deles eu já conhecia, pois morava na mesma cidade que eu. Nós dois, bem como outros estudantes, viajávamos de ônibus, de segunda a sexta feira, após o trabalho, durante uma hora, para irmos à Faculdade. Depois da aula, voltávamos para casa.
No princípio foi difícil a questão da adaptação na sala de aula, pois a maioria das colegas de turma era 20 anos mais jovem do que eu e tinha outros interesses. Elas só viviam para estudar e eu tinha que trabalhar durante o dia e estudar à noite. Tínhamos bastante trabalho em grupo, portanto era necessário que nos comunicássemos. Depois de alguns meses, vencendo minha timidez, fui me aproximando das pessoas e elas foram se interessando pela minha vida. Resumindo, no final do curso, fui escolhida para fazer uma leitura na Missa, levar a vela ao altar e, à noite, ser a oradora da turma.
No dia seguinte, no baile, estávamos todos radiantes. Meu pai é um “pé de valsa”, como se diz no Brasil para uma pessoa que dança muito bem. Assim foi maravilhoso dançar a valsa com ele. Depois ele dançou com minha mãe, que ficou feliz em relembrar os tempos em que os dois iam juntos aos bailes, antes de se casarem.
Quando eu tinha 20 anos, sonhava ser Jornalista ou Assistente Social. Logo percebi que não poderia realizar nem um nem outro sonho, uma vez que, na Universidade, só se podia estudar durante o dia e eu precisava trabalhar o dia todo. Tive que mudar meus planos e muitos anos depois, fui estudar à noite em uma faculdade particular. Decidi estudar Psicologia porque, como as outras duas profissões, é um trabalho diretamente ligado às pessoas. O trabalho com os seres humanos é bom, embora seja difícil, pelo fato de as pessoas terem a personalidade tão diferente, umas das outras.
No Brasil, trabalhei como Secretária em um colégio e depois como Assistente Administrativa em uma firma, durante muitos anos. Trabalhei alguns anos, como Psicóloga, em um consultório de Psicoterapia.
Meu lema é: “Quem sonha, realiza”. Quando se tem um sonho e se faz algo para realizá-lo, se consegue. No meu caso, não consegui ser Jornalista, pelos motivos que citei acima. Há alguns anos, fui convidada para trabalhar em uma Rádio de Ulm, como Hobby. Seria em português, a título de promover a cultura do Brasil e dos outros países de língua portuguesa. Aceitei o convite e me dedico bastante, procurando me atualizar sempre. Faço o programa com responsabilidade, pois é algo que me dá prazer. Assim posso realizar um sonho, indiretamente.
Quanto ao Serviço Social, ainda estou me organizando. Atualmente trabalho com crianças e isto me ajuda a conhecê-las melhor.
Há dois anos comecei a dar aulas de catecismo. É gratificante ver como as crianças se interessam em aprender coisas sobre a vida de Cristo. Cada vez que me preparo para as aulas, entendo um pouco melhor a Bíblia.
Sinto-me feliz em realizar este trabalho voluntário junto à Igreja Católica. Quando participo de cursos de aperfeiçoamento, me sinto integrada com o grupo de trabalho e agradeço a Deus, por ter-me colocado em contato com as pessoas da comunidade de língua portuguesa de Ulm. Quando eu morava, há poucos meses, em Ulm, minha sogra leu no jornal sobre as Missas em português. Então foi comigo à Igreja, e quando conversei com as pessoas que lá estavam, soube que havia um Coral. Perguntei à maestrina se poderia participar e ela concordou. Fui aceita pelo grupo e estou lá até hoje. Canto com alegria e me sinto realizada em poder glorificar a Deus no meu idioma, aqui na Alemanha.
Já que estou falando em Deus, é Ele que me dá saúde e me orienta na melhor maneira de organizar minha vida.
Os anos vão passando e novos sonhos vão surgindo. Atualmente, estou interessada em escrever livros. Estou estudando e me preparando para isto. Meu primeiro livro deve conter temas variados para reflexão, pois já tenho alguns textos prontos, os quais escrevi para o Boletim da Igreja.
Sou bastante tranquila, não sei trabalhar muito rápido e isto é difícil para quem convive diariamente comigo, pois alguns parecem ter bastante pressa. Às vezes, sou um pouco teimosa e um pouco distraída, como se meus pensamentos estivessem longe.
Sou uma pessoa alegre e normalmente tenho um sorriso nos lábios, quando cumprimento as pessoas e assim me parece mais fácil aproximar-me delas. Depois que minha mãe faleceu, pensei que não iria sorrir nunca mais. Reconheço que foi difícil aceitar, mas Deus me iluminou para eu voltar a sorrir, embora eu sinta muita saudade dela. Sei que onde minha mãe estiver, vai gostar de saber que eu consegui elaborar essa perda.
Sou comunicativa e me considero fácil de fazer amizades. Procuro ser franca e gosto que sejam francos comigo também, mas nem sempre consigo isto das pessoas com quem convivo. Consigo entendê-las, pois há situações nas quais não se deve dizer a verdade.
Não gosto de pessoas fingidas e muito críticas.
Admiro as pessoas inteligentes e que organizam bem suas vidas, aproveitando as oportunidades e realizando seus sonhos.
Tenho alguns Hobbys, dos quais gosto muito: ler, escrever, cantar no Coral, fazer meu programa de rádio, ir ao cinema ou ao teatro e dançar em casa.
Além disso, gosto de trabalhar, viajar com meu marido e de estar com as pessoas da minha família.
Conheço muitas pessoas simpáticas em Ulm, com as quais gosto de conversar e trocar idéias. Uma delas é você, Ana Cláudia. Nós nos conhecemos na casa da Ilza, uma brasileira que conheço há alguns anos e que é muito especial para mim. Acho que foi no aniversário dela que conheci você, se não me falha a memória. Agora, você faz parte das pessoas importantes que conheço, pois gosto das suas idéias e da sua personalidade. Cada uma de nós tem seu trabalho, suas atividades diárias, suas obrigações de dona de casa e esposa; por isto ainda não nos encontramos muitas vezes. Mesmo assim, temos amizade e sei que não é por acaso, pois Deus prepara as pessoas para se conhecerem. Espero que esta amizade se fortaleça, pois é ótimo conhecer alguém especial como você, principalmente quando se está tão longe do próprio país. E poder falar um pouco em português faz muito bem. Sei que a família é muito importante e procuro dar valor à minha. Mas devemos ter contato com outras pessoas também.
Espero ter colaborado para “enriquecer” as páginas do seu livro, com partes da minha história de vida.
Você parece uma pessoa muito dinâmica e que tem vários ideais. Desejo que realize seus sonhos. Que Deus lhe dê saúde e felicidades, junto a seu esposo e a toda a sua família.


Um abraço,

Lucimar





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