Mulheres da Minha Vida

Criei este blog, como complemento da comemoração dos meus 40 anos, que acontece este ano no dia 20 de setembro, aqui pretendo colocar os depoimentos de pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida de maneira especial. Desde o fim de 2009, venho me empenhando para reunir os depoimentos de 40 mulheres para colocar num livro e agora que os tenho, quero partilhá-los com outras pessoas também.

Talvez muitos dos meus amigos perguntem, assim como meus irmãos já me perguntaram, mas por que não os homens também?? A resposta é simples, estou num momento muito especial de minha vida. E a vida me foi dada por uma mulher, claro que com a contribuição de um homem, mas a minha mãe teve um papel fundamental neste processo e quero valorizar a mulher.

Sou mulher, negra e feliz por ter a oportunidade de ter chegado até aqui!

Tenho certeza que depois da criação do blog, outras me escreverão. E estes terão um registro aqui.

E talvez seja um incentivo para aquelas que não escreveram, ainda me encaminharem algo. O material ainda não está pronto e acabado, contribuam com fotos e outros meios criativos.

Mas seja rápida, pois senão vai ficar de fora da comemoração!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Nélide, uma história de sorte



Garota de sorte

Pressupostos:

1)” o ponto de vista: para onde estou olhando” A primeira coisa que se deve ter em mente quando se lê uma estória é termos consciência que se trata de um único ponto de vista. Portanto, não fica difícil deduzir que o mesmo fato pode ser narrado de maneiras tão diferentes fazendo-o variar entre a tragédia e o conto de fadas.

2)” o ponto de vista: como me vejo” O que faz uma pessoa ser feliz é única e exclusivamente a maneira como ela se vê e vê as coisas ao seu redor. Exemplo: Cresci ouvindo meu pai falar que teve uma infância muito pobre e difícil, precisou abrir mão de sua meninice para trabalhar e ajudar no sustento da casa aos onze anos e por causa disso (e só por isso), aos onze anos ganhou seu primeiro par de sapatos, pois na farmácia onde trabalharia o foi exigido. Até uma semana atrás sentia muita tristeza ao lembrar desta história. Por obra do destino caiu em minhas mãos a biografia de um dos maiores presidentes que o Brasil já teve, e adivinhe???Sua estória é muito parecida com a do meu pai, pois assim como ele, JK só soube o que era ter um par de sapatos aos doze anos, a diferença? Ele não fez disso um fardo, uma tristeza, uma vergonha, ao contrário, lutou, estudou tornou-se Presidente da República e em exercício do seu mandato foi visto várias vezes descalço com a desculpa de não suportar sapatos...

Bom, agora sim posso falar desta tal garota de sorte, euzinha! (risos)

A sorte começa pelo nome, quantos em milhões mundo afora têm o privilégio de se chamarem NÉLIDE, pois é, e não para por aí, não, Nélide é na verdade a mistura de dois nomes, o que convenhamos, o torna ainda mais exclusivo.

Nél vem de Nelson (que, aliás, é o nome do meu pai) e Ide vem de Neide (e pasmem, minha mãe se chama Margarete). Tudo bem, eu explico. Acontece que apesar de ter o seu nome na jogada, o Nelson que inventou este nome não foi meu pai e sim um amigo dele cuja mulher se chama Neide...ufa!

Tive uma infância muito feliz, vida em família, muitas atividades sociais, a maioria delas relacionadas direta e indiretamente à Igreja Católica, onde meus pais namoraram, se casaram e da qual participam até hoje.

A adolescência foi barra, tive dificuldades para lidar com o mundo exterior, com as outras pessoas, senti a insegurança de me expor e não ser boa o bastante, senti medo de não gostarem de mim, e o pior de tudo: EU ERA MUITO DIFERENTE. Não na aparência, mas nos valores, e a combinação destes fatores me transformou numa adolescente problemática e chata.

Agora fala sério, apesar de problemática e chata, eu consegui me tornar a melhor amiga da Ana Cláudia. Daí você deve pensar: - ah, isso é moleza, a Ana é uma santa e gosta de todo mundo. Não, não meu chapa, eu e ela sabemos dos detalhes, e tenho muita sorte de poder dividir tudo isso com ela.

Eu conheço a Ana desde que me conheço por gente, pois desde que me conheço por gente participava da comunidade Nossa Senhora das Graças, em Osasco, e acho que ela também. Não sei precisar exatamente quando e porque nos tornamos melhores amigas, mas sei que um dos principais fatores foi justamente aquele que me separava da maioria dos adolescentes da escola, os valores. Conversar com a Ana era tão fácil para mim, porque estávamos na mesma sintonia. Fora a afinidade, sempre gostamos de bons livros, filmes, teatro, exposições, e fazíamos disso nosso passa tempo.

Vivemos histórias hilárias juntas, rimos mais que choramos, dividimos, ocultamos, erramos, aprendemos, vivemos como as melhores amigas o fazem.

Uma das coisas que marcou esta nossa época (que vou chamar de juventude), foi a nossa busca pela cara metade. Era engraçado, a gente queria encontrar logo alguém para ser feliz, queríamos nos apaixonar loucamente, mas faltavam candidatos. Chegamos a pensar em fundar uma associação - a AMEM (Associação das Mulheres Encalhadas Mesmo). Fazíamos mil projetos entre uma taça de vinho e outra, e um deles, era escrever uma manual para ajudar os homens a conquistar uma mulher.


Então veio o exílio, me mudei para longe por questões profissionais e ficaram muitas saudades, lembranças e um contato esporádico mais intenso.

E lá vem a famosa sorte para me salvar. No exílio, finalmente, encontrei minha cara metade e com ele, após dez anos de amor, aprendizado, crescimento, e tudo o que tempera uma relação a dois, me tornei mamãe do Lucas e da Luiza, hoje com um ano e quatro meses.

No exílio, aprendi a encontrar um Deus Maior dentro de mim mesma. Não conseguindo ir à Igreja, aprendi que se pode ter amigos que sejam tão diferentes de você que o façam olhar para si mesmo e pensar: “como posso ser assim?” e, mesmo assim, amá-los, respeitá-los e aprender com eles todos os dias. Aprendi a dar maior valor a coisas pequenas como um lindo dia de verão, o cheirinho do café que só a mãe da gente faz, aprendi, aprendi, aprendi e cresci, finalmente me tornei mulher.

Hoje sigo aprendendo e por ironia do destino, a Ana está no exílio. Seguimos aprendendo cada uma a seu modo, rindo mais que chorando, dividindo, ocultando, errando, aprendendo, vivendo, como as melhores amigas o fazem, e, ao meu ver, para ter tudo isso, só sendo mesmo uma garota de muita sorte.


2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Nélide, amo sua mãe! Saudade dela!

    Parabéns pela linda família que vc tem!

    Um abraço!

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